segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Apenas um ponto de vista... (R$4,80 version)


Era apenas mais uma noite de Julho. Algumas pessoas trabalhariam no dia seguinte pela manhã, outras apenas desfrutariam de mais um belo dia de sol nas férias, por isso, dormiram cedo. Todos, menos quatro bravos guerreiros, dormiam naquele momento. Esses andarilhos da noite atendiam pelos nomes JK, CC, Sanctus e Sequinho. Vou contar essa história do modo como vi. Tínhamos acabado de comer um churrasco preparado pelo mestre JK, jogado futebol e tudo o mais. O fato é que este foi regado a bebidas alcoólicas. Tínhamos todos os tipos de bebidas: cerveja, vinho, licor e até uma companheirinha alada verde limão nos acompanhou quando tomamos uma bebida da mesma cor contrabandeada da Holanda. Depois de fartos de comer e de ouvir reclamações dos vizinhos irritados e embriagados de tanto beber, nos retiramos na casa em direção ao ponto de ônibus. Esperamos 5 minutos e desistimos. Sequinho sugeriu que fossemos a pé. Ele disse que apesar de longe, seria divertido. E foi. Nesse momento nossa epopeia começou.
Caminhando pelas ruas da cidade, nos deparamos com uma casa que possuía vários arbustos no jardim. Sequinho não pensou duas vezes, saiu correndo na frente dos outros e se jogou de costas nos arbustos. O arbusto cedeu, quebrou e Sequinho caiu levemente de costas no chão. As risadas explodiram. Eu fui em seguida, depois Sanctus e JK. Ficamos muito tempo nessa brincadeira. Depois de alguns minutos, sujos de grama da cabeça aos pés, nos levantamos e continuamos jornada, porém, Sequinho, que havia ficado para trás, chamou os outros e mostrou-nos o que havia encontrado. Era uma pulseira de cigana com pedras roxas e enrolada em uma espécie de cipó. Aquele, nesse momento, tornara-se o símbolo desta aventura.
Depois de andar por muito tempo, por incrível que pareça, sentimos fome. Paramos para comer em "Dinner" que é como chamavam os transeuntes. pedimos umas porções pois era a única coisa do cardápio que estava a nosso alcance financeiro de R$ 4,75. Na hora de pagar a conta, a mulher do caixa não queria nos dar o troco de 4 centavos. Uma discussão sem tamanho começou e depois de muito tempo ela nos deu uma moeda de 5 centavos. Havíamos lucrado 1 centavo! aquele foi o momento mais feliz do dia! a alegria nos contagiou como se fosse um vírus. saímos pulando, dançando e cantando daquele estabelecimento para continuar a jornada.
Fazia frio aquele dia e todos estavam muito agasalhados, porém, a vontade de ir ao banheiro começou a ficar crítica e necessária. Como estávamos longe de tudo, urinamos na rua mesmo e esta escorria para o meio fio apostando corrida com as outras. Claro, a minha ganhou, e como prêmio, tomei os últimos goles da única garrafa de cerveja que restara. Com a garrafa vazia, decidimos montar guarda como se esta fosse uma bandeira. Sequinho era o comandante dessa apresentação. Fizemos todas as honras militares. Após terminar, Sanctus colocou a garrafa vazia no chão e deu um chute muito forte onde voou estilhaços para todo o lado. Começamos a rir novamente.
Nessa hora já nem pensávamos mais no que fazíamos. Começamos a apertar todas as campainhas das casas. Já eram 4:15 a.m. fizemos isso até alguns gangsters passarem de carro por nós e mandar-nos parar. Paramos de apertar campainhas, mas fomos até o orelhão próximo e só para quebrar a rotina começamos a cuspir nele. Sequinho foi o que mais cuspiu no aparelho. Já quase chegando na casa onde passaríamos a noite, passamos por uma delegacia de polícia, foi quando JK disse para corrermos se não seriamos presos. Nunca corri tanto na vida. Quando chegamos a porta da casa, uma cascata d'agua jorrava em direção ao céu, mal podia se ver seu final, mas dizem que tocava as nuvens. Só sei que na manha seguinte já não estava mais lá. Lembro que falamos algo com alguns taxistas, mas não me lembro mais o que era. Estava muito bêbado.
Quando entramos fomos conferir o dinheiro que tinha sobrado. Milagre? Tínhamos R$4,80! Como, se antes tínhamos R$4,75? Impossível! O que teria acontecido? Quando ficamos sóbrios de novo e a ressaca passara, analisamos a situação e concluímos que na aflição de pegar o troco, havíamos esquecido de pagar!